quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A hora do “sim” é o descuido do “não”

Por Ana Inês
Foto- reprodução Instituto Baleia Jubarte


Numa quarta-feira pela manhã, caminhamos na garoa até o farol, na Praia do Forte, e embarcamos numa lancha à escuna, que estava ancorada há poucos metros da praia, e nos levaria para avistar as baleias Jubarte. De imediato, percebemos que nosso ânimo ganhou várias facetas: da busca por coragem; da insegurança; do frio na barriga e do enjôo incontrolável, que nos acompanhou durante as quatro horas e meia que navegamos em alto-mar.
A explicação de Daniel para termos encarado nossa maior aventura em família, até hoje, está na música “Sei lá a vida tem sempre razão”, de Vinicius de Moraes, no trecho que diz: “...a hora do sim é o descuido do não”.

Talvez por isso, para uns bem pé no chão, navegar não seja realmente preciso, muito menos por diversão. Esse é o caso de Cosme, filho de pescador, que nos alugou material de mergulho na Praia do Forte: “Tenho toda a segurança mergulhando, mas a pior coisa do mundo é estar em cima de um barco”, disse pra gente numa conversa, em tom de conselho. Foi ele quem encontramos, por coincidência, no entardecer dessa quarta-feira, encharcados, de roupa e tudo, depois de desembarcar de nossa inebriante navegação.

Personagens em 3x4
Daniel parecendo o próprio comandante da embarcação, mirando firme a proa do barco – passou toda a viagem de pé, até se esvarar no convés. A cada onda maior que se aproximava e parecia estar prestes a cobrir o barco, ele encarava o mar e expressava um sonoro “Oba!!!”. Hoje, depois de todos perguntarmos o por quê daquela animação, enquanto nos encolhíamos, entendemos que cada um canalizou o medo de uma maneira.

Caio - dois anos, cinco meses e um novo vocabulário a cada dia – ficou impressionado com a reação de outra criança logo no embarque, e assimilou rapidinho o significado da palavra medo. Fechou os olhos, choramingou, me abraçou e adormeceu. Apenas despertou o ânimo ao sentar-se na areia da praia, assim que voltamos.

Davi - com sete anos e toda a força destemida para enfrentar os 7 mares - estava no cenário perfeito para encenar um filme de bravos piratas, mas passou a viagem deitado sobre a Jubarte de pelúcia (já batizada de Jujuba). Agora essa era a única baleia que se interessava por ver. Na primeira grande onda de uns 4 metros, que fez o barco saltar bruscamente, ele me pediu choroso para dizer ao capitão que não fizesse mais aquilo. Mas, apesar do susto, Davi foi o único que não enjoou. Para ele, houve até uma paixão: Sofi!, seu primeiro amor - uma francesinha que estava ao seu lado durante toda a viagem, e também em seus sonhos por dois dias.

Ana - com a coragem que precisava transparecer, só pensava em como poderia ter sido capaz de tamanha insensatez: submeter os filhos a uma situação que eu não poderia controlar e talvez até traumatiza-los. Estávamos todos no limite de nossas emoções. O alívio vem hoje, ao perceber que nenhum deles acordou assustado durante as noites que se seguiram à viagem.

Íris nossa bióloga, olhando o horizonte sempre de cabeça erguida - cedeu ao mal- estar e em seguida melhorou e dormiu. Quase não acorda na hora de ver a baleia, que acabava de aparecer e mostrar a calda, depois de pelo menos três horas de nossa viagem. A tripulação acabava de decidir pelo retorno e reconhecer o dia difícil para observações em alto-mar: “O pior dos últimos tempos”, segundo eles. Mas, agora Íris estava feliz, olhou novamente, demorou um pouquinho e viu um salto do mamífero, não tão gigante como haviam falado. Ficou impressionada com a descrição sobre a baleia que víamos aparecer e desaparecer nas águas a cerca de 100 metros.

Jubarte - sub-adulto de quatro metros e meio, tido como arredio, por não se aproximar do barco, nem estar acompanhado de seu grupo. Tão ágil, que não conseguimos registrar com a pouca velocidade de nossa pequena câmera digital.

Terra firme marujo! Gritou Davi, ao avistar o farol. Ele estava muito mais animado do que no momento em que vimos a baleia. Com certeza traduziu a sensação de nosso quinteto. Com os pés ainda trêmulos na areia, realmente precisávamos sentir o chão firme depois de quase cinco horas dentro de um barco. Mergulhar, talvez fosse a solução imediata para deixar possíveis traumas pra trás. Era preciso entrar e sentir o mar sem medo, o gosto e o cheiro salgado, ir pra casa com vontade de voltar pra nossa curta e bem aproveitada temporada praieira.

Nossas aventuras na Bahia:
A bênção de Vinicius de Moraes

Por mapas, trilhas, bússolas e alto-mar
Os Camaradas: Jorge Amado e Luiz Carlos Prestes
Próxima parada: umbigo da Bahia

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Personagens da Notícia: Zé Dirceu, o Judiciário e as eleições

Texto e Foto Daniel Cruz
No dia 7 de agosto o blog repórter free marcou presença no lançamento do sítio de Zé Dirceu www.zedirceu.com.br, para conferir de perto o gesto de “solidariedade” do meio político ao ex-ministro da Casa Civil, às vésperas do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República contra 40 pessoas envolvidas no suposto Caso do mensalão. O lugar não poderia ser mais propício: um bar, próximo à Esplanada dos Ministérios.

Entre amigos, políticos, assessores, curiosos e coleguinhas (apelido ácido, habitual de jornalistas para jornalistas), Zé Dirceu fez um teste de sua popularidade. O Clima era festivo e, ao mesmo tempo, de desabafo. A militância gritava: "Dirceu guerreiro do povo Brasileiro".

Como em qualquer "sítio", não poderia faltar os temperos e as bebidas. Afinal, a esquerda é festiva e a rotatividade do chopp, com muito colarinho, estava acelerada no balcão. As cachaças saliboa, isaura, chico mineiro, urucutana e salineira completavam prateleiras inteiras de bebidas, dividindo a ornamentação da festa com pastrami, provolone, copa, mortadela, soy, azeite e, como não poderia faltar, o Bicarbonato de Sódio estava tipicamente pendurado no Balcão. Bem sugestivo para agüentar um julgamento e agora, com a decisão do Supremo, enfrentar um processo criminal por corrupção ativa e formação de quadrilha.

No dia da festa, o blog repórter free registrou no boteco um encontro de "velhos amigos": Zé Dirceu e Palocci – ex-ministro da Fazenda. Nada como dar tempo ao tempo, já que os dois protagonizaram uma verdadeira quebra de braço para mostrar quem tinha mais PODER no governo petista, no primeiro mandato do Presidente Lula. De fato, abertura de processo não é condenação. O julgamento, no entanto, vai demorar e com certeza contaminar as próximas eleições presidenciais. Detalhe: Como estão os bastidores do Judiciário nesse caso?

domingo, 26 de agosto de 2007

Por mapas, trilhas, bússolas e alto-mar

Texto e Foto Ana Inês


Estávamos na Praia do Forte, Bahia, e em nosso roteiro muitos passeios foram ansiosamente traçados para sete dias. A parada obrigatória era no Projeto Tamar, mas, acima de tudo, nos demos permissão para aventuras. Tivemos as primeiras idéias a partir de um mapa ilustrado da praia, que encontramos em nossa pesquisa na Internet. Localizamos as piscinas naturais e, do outro lado, o curioso encontro do rio com o mar. Imaginamos a diversão certa para quem alcançasse aquela mistura da água doce e escura, com as ondas brancas salgadas. Vimos ainda a histórica Casa da Torre, chamada de Castelo Garcia D´Ávila, e nem sabíamos o quanto seria divertido andar pelas ruínas em labirintos, ou subir o caminho de barro a bordo de um tuc-tuc (uma carretinha de três rodas inspirada nos mini-transportes da Índia e da Tailândia).

Nessa época, de julho a setembro, a observação das baleias Jubarte que freqüentam a costa em busca de águas mais quentes para a reprodução da espécie também movimenta o turismo da região. Eles deixam o visitante animado para assistir, de perto, ao espetáculo montado por sua “simples” aparição. E, como qualquer um, estávamos permeados pelo assédio das operadoras que fazem o passeio.

Passados dois dias com tantas informações sobre o passeio em alto-mar, estávamos nos conformando em não realiza-lo. Uma das operadoras com a qual entramos em contato não permitia o embarque de menores de cinco anos, assim não poderíamos levar Caio. Nossas opções seriam fazer o passeio em dias alternados (eu e Davi, Íris e Daniel), o que quebraria nosso roteiro juntos, todos os dias; ou a gente podia alugar uma lancha com outro grupo, alternativa muito cara. Até que, no final da tarde do domingo, visitamos o Instituto Baleia Jubarte e ficamos de retornar na terça, quando estaria reaberto para visitação.

Em nosso penúltimo dia na praia, e única manhã de tempo mais fechado, com sol ameno e vento forte, observamos o quanto a escuna (aquele barco que nos levaria para ver as baleias) estava balançando... “ainda bem que não estamos lá”, brincamos com bom humor, enquanto construíamos um castelo de areia prestes a ser invadido pela espuma das ondas. Eu e Daniel voltamos no tempo e entramos na brincadeira. Levantamos as torres do Castelo e até um grande canal e uma barreira. De nossa fortaleza podíamos gritar: “barco à vista!”, e parecia mesmo que estávamos nos preparando para enfrentar um grande navio pirata.

No meio de tudo isso, fotos, fotos e mais fotos... como zomba o capitão Daniel. Por isso, tínhamos que guardar um espacinho na memória da câmera pra registrar a visita marcada para aquela tarde, ao Instituto. O primeiro ponto pra foto seria ao lado do esqueleto de uma Jubarte com mais de 13 metros, montado logo na entrada do Instituto. Então, já no início da noite, depois que ficamos encantados com tudo o que aprendemos sobre esse cativante mamífero, saímos direto para uma agência de turismo há poucos metros dali e acertamos nosso passeio para o dia seguinte. Pronto! Completaríamos nosso roteiro sem deixar de cumprir o que seria a parte mais excitante da viagem. A possibilidade de ver as baleias Jubarte de perto talvez tenha sido o que mais nos atraiu desde o início.

Nossas aventuras na Bahia:
A bênção de Vinicius de Moraes
A hora do “sim” é o descuido do “não”
Os Camaradas: Jorge Amado e Luiz Carlos Prestes
Próxima parada: umbigo da Bahia

repórter free


Depois de um certo tempo como projeto piloto, o blog repórter free cai literalmete na Rede. A partir de hoje estaremos publicando nossas aventuras jornalísticas e familiares. Para essa jornada formamos um quinteto com nossos filhos: Íris, Davi e Caio. Esse espaço talvez nos sirva como cartão de visita ou, simplesmente, um lugar no qual podemos exercitar o jornalismo sem depender de ninguém, como a própria acepção de nosso título.